

O silêncio do solo, a voz do vinho
Fundada em 1988, a vinícola é capitaneada por Daphne Glorian, que nasceu em Paris e se radicou na localidade de Gratallops. A centelha da paixão de Dpahne pelos vinhos foi acesa após um período profissional no escritório de Kit Stevens, renomado mercador britânico. Foi através deste trabalho que ela, além de testemunhar a excelência dos rótulos da Bourgogne, conheceu amigos que falavam sobre a região vinícola de Priorat, localizada na província de Tarragona, dentro do território catalão. Foi a partir daí que ela iniciou uma jornada que mudaria sua vida e colocaria Priorat no mapa dos grandes rótulos europeus. Ela investiu todas as suas economias na compra da propriedade onde a Clos i Terrasses está instalada. A área possui 11,2 hectares de vinhas das castas Garnacha (75%), Syrah (20%) e Cabernet Sauvignon (5%), com idades entre 10 e 30 anos.
Daphne define seus vinhos como resultado “de uma louca aventura que tirou uma fantástica região vitivinicultora do esquecimento”. De fato, Priorat sempre teve bastante potencial, mas grande parte de seus vinhos eram enviados a outros produtores para reforçar rótulos que careciam de taninos e teor alcoólico. No entanto, a chegada de vitivinicultores vindos de outras partes da Europa no começo dos anos 1990 resgatou a essência do terroir local e imprimiu personalidades aos seus rótulos.
O solo sobre o qual são cultivadas as uvas da Clos i Terrasses é o “licorella”, rochoso, rico em minerais e com presença de ardósia de tom avermelhado. Estas características oferecem ótima drenagem, além de atuar na retenção do calor durante o dia e liberá-lo à noite, o que favorece o amadurecimento pleno da fruta e incrementa a complexidade de seu sabor.
A enóloga responsável é Ester Nin, que trabalha na propriedade desde 2004 e foi a responsável por implementar as técnicas de cultivo biodinâmico no local. A colheita é feita manualmente e as uvas são arrefecidas antes do desengace. Há também um período de 35 dias de maceração e cada casta é fermentada separadamente em barricas de carvalho, cubas de concreto e ânforas. Além do multipremiado Clos Erasmus, o produtor utiliza as suas videiras mais jovens (entre 5 e 40 anos) para a produção do Laurel, vinho que também figura entre os melhores da região.
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Artadi busca não fazer vinhos, mas traduzir a voz do solo
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Ao tratar a terra como um organismo vivo, Artadi adota uma agricultura ecológica, sem uso de substâncias químicas, guiada por um profundo respeito à biodiversidade. Cada vinha é cuidada como um indivíduo, e os processos de produção seguem uma lógica artesanal e atenta. A colheita é manual, realizada em pequenas caixas para preservar a integridade dos cachos. A fermentação ocorre com leveduras indígenas, respeitando o tempo natural de cada mosto, e o estágio se dá em barricas de diversos tamanhos, discretamente utilizadas, permitindo que o vinho evolua com elegância, sem maquiagem de carvalho.
A filosofia da vinícola está ancorada na ideia de que tradição e inovação não são opostas, mas companheiras. Com um olhar voltado para o futuro, mas os pés firmes na história, Artadi organiza sua produção de forma hierárquica, valorizando a origem específica de cada vinho — das expressões regionais às parcelas únicas.
Na Bodega Artadi, fazer vinho não é repetir fórmulas, mas escutar o solo, entender as estações e trabalhar com sensibilidade. É esse compromisso com o lugar — e com as pessoas que o interpretam — que transforma cada garrafa em uma tradução precisa da natureza e do tempo.


OS VINHOS








